De todo apoio político que o Gaeco da Paraíba recebeu até hoje, nenhum certamente se equipara, sobretudo em termos simbólicos, ao apoio que o político e Ministro da Justiça, Sérgio Moro, manifestou hoje aos nossos independentes promotores.
E olhe que o rol desses apoios é grande, incluindo desde políticos de imaculada trajetória, como Cássio e Pedro Cunha Lima, Ruy Carneiro e Luciano Cartaxo, a ícones da imprensa apartidária e honesta, como Nilvan Ferreira – sem falar nas dezenas de jornalistas paraibanos que não jamais dispensaram uma teta pública, apesar de viverem a criticar a corrupção.
Segundo um dos blogueiros oficiais da Operação Calvário, Suetoni Souto Maior (leia aqui), jornalista do Sistema Paraíba, a Globo daqui, o Ministro da Justiça de Jair Bolsonaro fez uma visita “fora da agenda oficial” para manifestar “apoio ao trabalho do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público da Paraíba (MPPB).”
Talvez não tenha sido por acaso o jornalista ter lembrado que a “vinda de Moro à Paraíba ocorre um dia antes de o Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgar o recurso do Ministério Público contra decisão que resultou na soltura do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), no ano passado.”
O Ministério Público recebe um político, que resolve fazer uma visita política, com a intenção deliberada de produzir um fato político. Isso cheira muito mal, mas, assim como nos acostumamos a conviver com a podridão dos matadouros, ou dos esgotos a céu aberto, o Brasil vai naturalizando esses absurdos.
É bom não esquecermos que a Constituição Federal (artigo 127, § 1º) estabelece que o Ministério Público e funcionalmente independente, principalmente em relação aos governos. Por isso, ele deve atuar sem a interferência de nenhum ente do Estado.
Por isso, causa imensa estranheza que o Ministério Público da Paraíba aceite ver sua imagem associada a um ministro, a qualquer ministro, mas sobretudo a um que ostente a trajetória de Sérgio Moro, cujo comportamento como juiz é a negação de uma Justiça não-partidária.
E às vésperas de um julgamento no STJ que envolve um adversário político tanto de Sérgio Moro quanto do seu chefe, Jair Bolsonaro. Sergio Moro pretende intimidar a Corte?
Na semana passada, o Procurador Geral da República, Augusto Aras, criou um grupo semelhante ao Gaeco para atuar no MPF – expero que não seja para perseguir os adversários do presidente, já que Aras foi nomeado por Bolsonaro para ser a “rainha” no tabuleiro político do governo.

PS: O político e Ministro da Justiça, Sérgio Moro, abriu um espaço na agenda para uma visita à sede da PF, em João Pessoa, onde concedeu uma entrevista à imprensa. Ele talvez tenha sido lembrado que tem deveres funcionais, além de fazer política.