Hoje, o Secretário de Saúde da Paraíba, Geraldo Medeiros, deu informações que deveriam ter deixado a Paraíba perplexa e, sobretudo, preocupada.
Em entrevista à rádio Arapuã, Medeiros disse, entre outras coisas, que a pandemia avança aceleradamente pelo interior do estado. Um número é revelador desse fato que, se não é surpreendente pela incompetência do própria governo estadual em lidar com o avanço da pandemia, é preocupante porque as cidades do interior não tem a mesma cobertura de leitos como na região metropolitana de João Pessoa.
Segundo o secretário, há 60 dias a grande João Pessoa concentrava 64% dos casos, e 36% no interior. Hoje, a situação se inverteu completamente. Enquanto a grande João Pessoa tem 22% dos casos, as cidades do interior chegaram a 78%.
E não pense que essa inversão acontece por conta da melhora da situação em João Pessoa.
O secretário criticou enfaticamente a falta de planejamento das cidades, citando os casos de Campina Grande, Patos e Guarabira, que “flexibilizaram” o isolamento social, como se o governo João Azevedo fosse um exemplo a ser seguido nesse campo. O secretário citou tudo que falta na Paraíba para um ação planejada de enfrentamento da pandemia, como “testagem maciça a população” e altos índices de isolamento social. Risível.
Respondendo sobre o caso se Cabedelo, que pretende fazer uma abertura geral na próxima semana, o secretário mencionou números que revelam o verdadeiro desastre de sua gestão à frente da Secretaria de Saúde. Segundo o secretário, Campina Grande tem o que ele chamou de “grau de duplicação viral”, que vem a ser a taxa se contágio ou de reprodução efetiva (RT) do coronavírus.
João Pessoa tem taxa de contágio de 1,5; a de Campina é 2,1!
Segundo o Secretário de Saúde do governo João Azevedo, Campina Grande atingiu uma taxa de contágio de 2,19 e João Pessoa 1,5, números que deveriam alarmar qualquer um cuja função seja salvar vidas e mostre empatia com os mais pobres. Esses números mostram que a taxa se contágio tanto em Campina quanto em João Pessoa está fora de controle.
Para entendermos a gravidade da situação revelada pelo secretário, veja o quadro abaixo.

Ele mostra a taxa de contágio do estado do Rio de Janeiro e da capital em 24 de junho de 2020. Notem que 1,35 é considerada uma taxa de risco de contágio considerada alta. Essa taxa mede a capacidade de infecção e, portanto, a circulação do vírus.
A ilustração permite visualizar melhor a taxa se contágio. Uma taxa superior a 1 significa que uma pessoa infectada pode espalhar o vírus para pelo menos uma pessoa. Quanto maior a taxa maior a contágio.

Por outro lado, a capacidade de contágio está relacionada a outro índice, o do isolamento social. Isso significa que quanto mais gente infectada circular, mais gente será infectada. Ou seja, quanto maior for a taxa de contágio piores são as condições para flexibilizar o isolamento social. E vice-versa.
Para demonstrar o que foi dito acima, vejamos a evolução da pandemia de coronavírus em dois países europeus. Primeiro a Alemanha.

Notem que o primeiro caso de infecção por coronavírus na Alemanha foi registrado em 28 de janeiro de 2020. 16 dias depois, a Alemanha decretou lockdown. O resultado foi uma queda acelerada na taxa de contágio. Hoje, a Alemanha começa a voltar às atividades normais. Mais importante: com uma população de 83 milhões habitantes, a Alemanha teve 5.913 vítimas da Covid-19.
No caso da Suécia, que em nenhum momento adotou o lockdown, o contágio no país escandinavo continua fora de controle, com uma taxa de contágio que se mantém acima de 1.

Pior. Com uma população de 10,2 milhões de habilitantes, oito vezes menor que a da Alemanha, 2.274 suecos morreram durante a pandemia de coronavírus até agora.
Se os números que o próprio secretário de saúde da Paraíba mencionou hoje servem para alguma coisa é mostrar que a Paraíba está longe de controlar a pandemeia de coronavírus.
Com a política de abertura e fim progressivo do isolamento social, mesmo diante se números tão preocupantes, seria mais correto e honesto da parte do governador João Azevedo assumir logo que não existe estratégia de enfrentamento da pandemia.
PS. Para comprovar o que disse o Secretário, a Paraíba registrou hoje 2.008 casos.