O povo de vários e estratégicos municípios paraibanos foi às urnas escolher seus prefeitos em 2016, mas logo em seguida assistiu, bestializado pelo ambiente teatral, quase circense do tal “combate à corrupção”, sua vontade “soberana” ser substituído pela vontade quase ditatorial de alguns promotores e juízes.
Ações do Ministério Público Estadual, acompanhadas de decisões da Justiça que as corroboram, anularam a vontade popular expressa nas urnas quatro anos atrás e retiraram do cargo prefeitos legitimamente eleitos, e os substituíram dos seus gabinetes por vereadores, normalmente sem expressão política e eleitoral, que logo aderiram à nova ordem.
Não foi só isso. Não me consta que a vida política e administrativa desses municípios tenha melhorado. Pelo contrário, a regra geral após essas intervenções do Judiciário foi o caos administrativo nos municípios de Cabedelo, Bayeux e Patos – Santa Rita foi o laboratório dessa desastrosa experiência, tendo vivido seus anos de caos entre 2012 e 2016.
Agora, é a vez de João Azevedo, que pretende dar o golpe em Bayeux para manter seu grupo no poder a todo custo
Bayeux teve quatro prefeito nós últimos três anos e meio depois que Berg Lima (Podemos) foi afastado do cargo após ser divulgado um vídeo em que aparentemente recebe propina de um empresário para liberar pagamentos.
O vice-prefeito, Luiz Antônio (PSDB e ligadíssimo ao deputado federal Ruy Carneiro), assumiu o cargo, mas, em seguida, outro vídeo gravado por outro empresário, revelou que ele estava por trás das ações que levaram Berg Lima à prisão (veja aqui)

Luiz Antônio foi cassado pela Câmara de Vereadores. Em seu lugar, assumiu o então presidente do Poder Legislativo municipal, Nôquinha (PSL). Como o mandato de Nôquinha se encerrou em dezembro de 2018, o novo presidente da Câmara, eleito para o biênio 2019-2020 assumiu a prefeitura. E ficaria no cargo até o fim do mandato, que pertencia por direito a Berg Lima, caso este não tivesse conseguido uma decisão no STJ que o tirou da prisão – Lima ficou preso “cautelarmente” por meses.
Jefferson Kita (Cidadania), presidente da Câmara de Vereadores de Bayeux, viu, a exemplo do que acontece em Cabedelo e Patos, uma oportunidade para assumir a cadeira de prefeito e tentar a sorte nas urnas nessa condição. Primeiro, tentou cassar o mandato de Berg Lima e foi derrotado. Até o TJPB intervir novamente na prefeitura de Bayeux e afastar Berg Lima, isso há poucos meses da eleição.
Berg Lima então renunciou para provocar a eleição do novo prefeito pelo plenário da Câmara, como determinam uma ampla jurisprudência nas Cortes Superiores, mas também a Lei Orgânica do município:

Bem como o Regimento Interno da Câmara;

Como Jefferson Kita não tem voto nem para se eleger indiretamente Prefeito de Bayeux, resolveu apelar para a Justiça para se manter no cargo a todo custo. E conseguiu estranhas decisões que suspenderam a eleição. Isso até o último fim de semana, quando uma decisão do juiz Francisco Antunes Batista determinou a realização imediata da eleição pelo plenário da Câmara de Bayeux.


Restou a Jeferson Kita apelar para que o aliado João Azevedo determine uma intervenção em Bayeux. Kita foi um dos primeiros a anunciar apoio a João Azevedo quando o governador anunciou sua saída do PSB e filiação ao Cidadania.

Depois de dias de especulação, sobretudo levando em conta o vale-tudo em que se transformou a política na Paraíba, eu não duvidava da possibilidade de que João Azevedo anunciasse a intervenção em Bayeux para assegurar que um aliado concorra no cargo à prefeitura.
Quem ganhou o cargo de governador da Paraíba sem muito esforço, e traiu logo em seguida o principal responsável por sua eleição, isso para se aliar a ex-adversários, já demonstrou o quanto são rasos alguns dos seus valores, sobretudo aqueles relacionados à lealdade e ao respeito à vontade popular.
Enquanto terminava esse texto, li que o governador finalmente anunciou que não pretende intervir na Prefeitura de Bayeux. Se a imprensa, mesmo a aliada, deseja saber, é que essa hipótese, sempre ventilada, ainda estava em consideração. Certamente, João Azevedo levou em conta o desgaste que ato tão autoritário provocaria na sua uma imagem de traidor já consolidada em todo estado.