Não se enganem. A política tem muito de encenação e, como no teatro, tem os bons e os maus atores.
Em 2018, por exemplo, Jair Bolsonaro, encenou o papel de político “anti-establishment“. E logo Bolsonaro que estava há quase 30 anos no Congresso e havia passeado por uma dezena de partidos – aliás, um político antissistema jamais teria contado com o apoio de todos os banqueiros do Brasil, como aconteceu no segundo turno em 2018.
Muita gente acreditou, outros fingiram acreditar e a tragédia se realizou. Tragédia para os mais pobres, diga-se, porque os mais ricos ficaram mais ricos.
Na eleição para prefeito de João Pessoa de 2020, a encenação que alguns candidatos protagonizam tem sido a marca dessa campanha.
Tem o “delegado” moralista que gasta quase R$ 40 mil mensais de verbas indenizatórias, mesmo com a Assembleia Legislativa fechada e os deputados exercendo suas funções em casa.
Tem o candidato que vivia a atacar a corrupção no rádio e na TV, e que responde a processo por falsificação e sonegação fiscal (e sob a proteção do “segredo de justiça!”).
Tem o caboquin do centrão que fala em melhorar a administração pessonse, logo ele, que foi um dos piores prefeitos que a cidade já teve.
E tem o deputado federal Ruy Carneiro, que resolveu apresentar-se como o santo da eleição, num papel mal ajambrado e completamente fora de lugar. Ruy, por exemplo, já foi condenado em primeira instância por improbidade administrativa, que é outra maneira de dizer que ele foi desonesto.
Em 2006, durante o governo de Cássio Cunha Lima, de quem foi candidato a vice-governador na eleição de 2014, a esposa de Ruy Carneiro pagou com dinheiro público um tratamento dentário de R$ 10 mil reais (corrigido pelo IPCA, esse valor equivaleria hoje a R$ 41.000!) E, para agravar ainda mais a situação, os recursos saíram do Fundo de Combate à Pobreza. Pense na sensibilidade social e na preocupação com os recursos públicos dessa família!
Uma revelação pode colocar em dúvida se os embates protagonizados ao longo da campanha entre Ruy Carneiro e Cícero Lucena são realmente pra valer ou pura encenação.
É que entre os assessores parlamentares de Ruy Carneiro na Câmara Federal está Maria Ernestina Assis de Moura (veja imagem acima). Maria Ernestina é ninguém mais que irmã de Maria Lauremília Assis de Lucena, esposa do candidato do PP a prefeitura de João Pessoa, Cícero Lucena.

Estranho, não? Como a imagem acima mostra, Laura Emília está engajadíssima na campanha de Cícero? Ruy e Cícero foram muito próximos, a ponto do hoje deputado federal ter sido apoiado pelo então prefeito de João Pessoa na eleição de 2004.
Por que Ruy Carneiro haveria de manter em seu gabinete a irmã da esposa de um candidato adversário?
Como jabuti não sobe em árvore, e na política tradicional paraibana essas nomeações não são obras do acaso, vamos esperar pelo segundo turno em João Pessoa.
Família, família…